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Todo Mundo consegue Abertura Zero (espacate)?

O que tenho pra falar hoje pode ser frustrante para alguns praticantes de artes marciais, principalmente os que buscam o famoso espacate, a abertura zero.

Nem todo mundo vai conseguir chegar ao espacate, por mais que treine, por mais que se exercite, pois algumas das vezes, o que vai impedir, é uma limitação óssea.

A realidade é que as estruturas do quadril são diferentes, portanto, conseguir chegar ao espacate não é apenas uma questão de treinamento e constância, tão pouco de saber alguma técnica especial de alongamento.

Sabemos que as articulações se deterioram com a idade e essas deteriorações, seja pela perda óssea, ou formação de calos ósseos, causam reduções na amplitude de movimento; e muitas das limitações nem são de caráter ambiental, mas herdadas geneticamente, algumas pessoas vão conseguir abertura total em poucos meses de treinamento, algumas nunca serão capazes devido ao formato das estruturas esqueléticas.

A biomecânica do corpo de cada indivíduo pode tornar certas posturas mais vantajosas ou naturais para eles. Além disso, o histórico de treinamento, lesões passadas e a forma como o corpo responde a diferentes estímulos também influenciam a capacidade de treinar em busca da abertura total.

Assim o primeiro ponto de importância, é o acompanhamento de um treinador experiente ou especialista em biomecânica para avaliar se o progresso pode acontecer sem comprometer a saúde da mobilidade em consideração as características individuais de cada pessoa.

É fácil observarmos empiricamente ao nosso redor, prestando atenção nas pessoas você verá uma enorme diferença no tamanho físico e formato das pessoas. Essas diferenças físicas destacam fato de que todos somos diferentes, e esse fato se estende para as formas de nossas articulações e estruturas ósseas, sobre quanto e onde elas podem exibir amplitude de movimento.

Você não pode alongar as articulações além do limite onde se encontram os ossos. Se suas articulações ficarem sem espaço e acabarem pressionando um osso contra outro, você não poderá obter mais amplitude de movimento delas sem causar algum trauma. Portanto, a forma e a posição de suas articulações irão diretamente determinar quando e onde você desenvolverá esse contato osso a osso, e, em última instância, serão o principal fator limitante para a quantidade máxima de mobilidade que você pode alcançar.

Vamos focar na articulação do quadril, que é sem dúvida a principal limitante na maioria dos praticantes. O ângulo do encaixe entre o quadril e o fêmur é a diferença individual mais conhecida. Pode ser classificado em três categorias: coxa valga (um ângulo mais vertical se inserindo na pelve), coxa vara (um ângulo mais horizontal se inserindo na pelve) e o que é considerado um ângulo mais “normal” ou “correto” de aproximadamente 40-50 graus. Contudo existem outras diferenças anatômicas, o grau de retroversão e anteversão desse alinhamento. O eixo do fêmur nem sempre segue diretamente para cima e se insere na pelve com um alinhamento sólido de 90 graus. Existem casos onde pode estar inclinado, quando é para frente (a cabeça do fêmur está anterior ao eixo) chamamos de anteversão, ou inclinado para trás (a cabeça do fêmur está posterior ao eixo) conhecemos como retroversão.

O acetábulo em si pode estar em uma posição de anteversão ou retroversão, e essa diferença em si pode ser maior que 20 ou 30 graus. Isso significa que o mesmo acetábulo com a mesma forma proporcionaria a alguém que tem o acetábulo mais antevertido, 20 ou 30 graus extras de flexão do que alguém que tem o acetábulo mais retrovertido, mas daria a este último 20 ou 30 graus adicionais de extensão em relação aos quadris antevertidos.

A forma da cavidade do quadril também pode ser diferente! Algumas pessoas podem ter uma cavidade mais plana em formato de copo. Ocasionalmente, alguém pode apresentar uma retroversão ou anteversão focal em vez de global, as cavidades do quadril também podem ter profundidades variadas e os colos femorais podem ter espessuras diversas. E além de tudo isso, ainda pode ser que seu quadril tenha variações significativas e relevantes entre o lado esquerdo e direito.

Ou seja, nem todo mundo vai chegar na abertura zero, mas não quero que com isso você arranje uma desculpa para não treinar, consulte com um bom fisioterapeuta, faça exames de imagem para avaliar se você tem a capacidade óssea de alcançar o espacate, mas faça o melhor com a genética que recebeu, não chegar na abertura zero, não quer dizer que você não pode melhorar a flexibilidade, e chegar muito perto da abertura total, e com isso obter todos os benefícios úteis para o esporte de combate, que são, chutar mais alto e acertar a cabeça do oponente com mais facilidade.