Será que o ser humano tem a capacidade de atenção menor que a de um peixe dourado?
Esse mito, e já digo MITO, é originado de meados de 2015 quando a gigante Microsoft lançou um infográfico explicando que a capacidade de atenção humana vem diminuindo com o passar dos anos, e o que eram 12 segundos em 2000 se tornaram 8 segundos em 2015, um segundo a menos que o peixinho dourado.
Isso se tornou manchete de vários jornais e revistas e se espalhou muito rapidamente, com um nome forte como o da Microsoft por trás das pesquisas a segurança tida na informação era amplamente aceita.
Ao lermos o material da Microsoft, vemos que a pesquisa se baseia em explorar a capacidade de atenção das pessoas em relação à competitividade pela atenção das mesmas. E como as várias fontes de informação, telas, e meio de comunicação simultâneos tendem a nos fazer mudar de foco constantemente, não conseguindo manter a atenção em uma única tarefa por mais tempo.
A realidade é que por mais que a pesquisa, ou as informações trazidas pela Microsoft tenham sido realizadas e testadas, elas não se baseiam em estudos devidamente controlados e moldados para traçar a capacidade fisiológica do ser humano de manter a atenção, esse é o problema.
No geral Foram questionários respondidos pelas pessoas, em relação ao uso de várias telas (TV, Smartphone etc), adoção de mídias sociais e das últimas tecnologias em relação ao ambiente de trabalho, casa, estudos.
E na parte com mais cara de ensaio clínico, foram 112 participantes (amostra pequena), todos canadenses (baixa heterogeneidade), que foram filmados para avaliar o comportamento enquanto interagiam com várias mídias, ao mesmo tempo em que tinham que realizar atividades específicas nos diferentes dispositivos e ambientes, tudo isso foi ainda controlado pelo nível de atividade elétrica cerebral via EEG. (que não necessariamente se traduz em atenção).
Sendo assim um teste que é no máximo uma avaliação individual da capacidade de cada pessoa ali presente em lidar com as várias tarefas simultâneas no ambiente programado, o que fugiria muito do cenário real da vida, e tão pouco responderia a pergunta sobre a capacidade humana de prestar atenção.
A fonte de informações da Microsoft nessa pesquisa é oriunda de um instituto de pesquisa chamado Static Brain, (https://www.statisticbrain.com/) para quem quiser ver mais a assinatura são $ 18.00 mensais para estudantes e $ 28.00 para o público geral, e não podemos dizer que é uma fonte renomada de pesquisa, não querendo desmerecer.
Além do Estudo da Microsoft, se formos pesquisar nos bancos de dados famosos de artigos científicos (Pubmed, Scielo) simplesmente não temos nada relacionado a capacidade de manter foco e atenção dos seres humanos. Talvez por esse ser um tema que depende de contexto, a atenção em certas condições que deve ser levada em conta, a atenção como forma geral provavelmente nem pode ser mensurada corretamente.
Nossa capacidade de prestar atenção está intrinsecamente ligada ao nosso interesse e desejo pelo objeto de foco. Quando estamos interessados em algo, podemos manter nosso foco nisso por longos períodos de tempo. Isso ocorre porque o interesse desperta nossa curiosidade e motivação, o que facilita a concentração e a atenção contínua.
No mundo digital, a competitividade por atenção desempenha um papel significativo em nosso comportamento. Empresas, sites, aplicativos e plataformas digitais estão constantemente buscando maneiras de capturar nossa atenção e mantê-la o máximo possível. Isso pode ser feito por meio de técnicas de design, como interfaces intuitivas, cores vibrantes, notificações constantes e conteúdo altamente envolvente.
A competição por atenção no mundo digital pode levar a um comportamento de busca contínua por estímulos, como rolagem infinita em redes sociais, maratonas de séries, jogos viciantes e outras formas de entretenimento digital. Esses estímulos são projetados para manter nosso interesse e envolvimento, muitas vezes levando a um uso excessivo e até mesmo compulsivo das tecnologias digitais.
É importante estar ciente dessa competição por atenção e fazer escolhas conscientes sobre como e quando direcionamos nosso foco. O desenvolvimento de habilidades de auto-regulação, estabelecimento de prioridades e gerenciamento do tempo são essenciais para garantir que possamos direcionar nossa atenção para o que é realmente importante e significativo em nossas vidas, tanto no mundo digital quanto no mundo offline.